ACTUALIDADES SEMANAIS

 

SEMANA 39

21.-27.09.1997

 

22.09.97
52ª sessão da Assembleia Geral da ONU

"A situação poderá vir a desbloquear-se no Sahara Ocidental", declara o Secretário-Geral da ONU na abertura dos trabalhos da 52ª sessão da Assembleia Geral. Kofi Annan declara que desde a sua entrada em funções, em Janeiro último, promoveu "diversas iniciativas com vista a iniciar ou retomar processos de paz para diferentes conflitos, embora alguns resistam a qualquer tipo de entendimento". O Secretário-Geral da ONU reuniu-se recentemente com o Presidente norte-americano Bill Clinton para tratar de diversos assuntos internacionais, tendo, entre eles, abordado o tema do Sahara Ocidental.

23.09.97
Contactos Espanha-RASD

Abel Matutes, ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, encontra em Nova Iorque Mohamed Salem Ould Salek, ministro conselheiro junto da Presidência saharaui. Matutes reafirma o apoio da Espanha ao referendo de autodeterminação no Sahara Ocidental.
Por seu lado, Ould Salek afirma que as negociações directas entre Marrocos e a Frente Polisario constituíram «a via mais prática e também a mais positiva» para desbloquear o impasse. "Se as negociações directas não tivesse tido lugar, não teríamos chegado a nenhum resultado" Em Nova Iorque o ministro saharaui tem encontros com Kofi Annan e com outros altos funcionários da ONU.

24.09.97
Relatório do Secretário-Geral da ONU sobre o Sahara Ocidental S/1997/742 (texto em inglês

O Secretário-Geral sublinha na introdução ao seu relatório que as duas partes apenas desejavam discutir uma solução política no quadro da aplicação do Plano de Paz da ONU. Kofi Annan explica os detalhes da missão do seu enviado especial, James Baker, bem como os acordos alcançados que figuram como anexos ao seu relatório para, depois, fazer o ponto da situação existente no terreno. Sublinha em particular que as listas provisórias de presos políticos elaboradas pela Frente Polisario foram enviadas aos responsáveis marroquinos no passado dia 8 de Setembro, que apenas identificaram um dos 167 nomes nelas referenciados (segundo a descrição, trata-se de Mohamed Daddach). Para Marrocos, os outros presos constantes das listas são desconhecidos, faleceram, estão em parte desconhecida, foram amnistiados ou juntaram-se à Frente Polisario.
Segundo Annan, o Acordo de Houston criou as condições que permitem a completa concretização do Plano de Paz. A identificação dos eleitores pode, pois, prosseguir. O SG das Nações Unidas propõe enviar no início de Outubro uma equipa técnica à região a fim de preparar as infraestruturas necessárias à reinstalação da MINURSO.
Durante este período vários peritos e polícias civis serão recrutados. Após a reapreciação da lista dos cheiks (chefes tradicionais) chamados a testemunhar, as operações de identificação retomarão progressivamente. Uma vez concluída a identificação, as listas dos votantes serão publicadas e será proclamado o dia J, o ponto de partido para o período referendário propriamente dito. O começo do período de transição. O referendo poderá ter lugar até um ano após aquela data. O Secretário-Geral recomenda ao Conselho de Segurança o prolongamento do mandato da MINURSO por dois períodos, um primeiro de três semanas e que vai até 20 de Outubro, e um segundo de seis meses que finda em 20 de Abril de 1998. Durante o primeiro daqueles períodos, os países membros da ONU irão decidir relativamente à sua contribuição humana e financeira para a MINURSO. No segundo período decorrerá a identificação. Kofi Annan comprometeu-se a submeter ao Conselho de Segurança, durante o mês de Novembro, um relatório que conterá um plano detalhado e um calendário preciso para a operação.

25.09.97
Marrocos aceitará os resultados de um referendo no Sahara Ocidental

Driss Basri, ministro marroquino do Interior, afirma durante uma visita a Paris que Marrocos aceitará os resultados de um referendo sobre o futuro do Sahara Ocidental, mesmo se estes forem desfavoráveis à integração do território da antiga colónia espanhola no reino cherifiano. "O mais forte desejo (do rei Hassan II) é de respeitar a legalidade internacional. Se por acaso as populações do Sahara votassem pela independência, Marrocos aceitaria essa decisão. E seria mesmo o primeiro país a estabelecer relações de boa vizinhança com o Sahara e aí abrir uma embaixada", afirmou Basri, sublinhando que já há alguns anos o monarca marroquino havia expresso essa mesma posição na tribuna da ONU". O ministro do Interior do Governo de Rabat adiantou que o Acordo de Houston "assenta no Plano de Paz (da ONU), o qual prevê a integração do território no Reino de Marrocos ou a sua independência". "Não se pode excluir (que a vontade de independência saia vencedora), mas Marrocos tudo fará para que os Saharauis optem pela marroquinidade do Sahara", acrescentou o ministro durante um encontro com jornalistas franceses. Driss Basri admitiu que uma e outra parte tenha feito concessões a fim de se chegar a um acordo, mas recusou admitir o número de 80.000 votantes avançado por James Baker. Segundo o influente político marroquino, as partes comprometeram-se desde o início das negociações levadas a cabo pela ONU a nada divulgar do conteúdo dos acordo alcançados". (AFP)

26.09.97
James Baker diante do Conselho de Segurança

Em sessão à porta fechada o representante especial para o Sahara Ocidental informa os membros do Conselho dos resultados nas negociações marroquino-saharauis. No final, declara aos jornalistas que a cifra de 80.000 votantes é uma estimativa que não limita de forma alguma o número de pessoas que se queiram apresentar para serem identificadas. O número definitivo de votantes poderá até ser bastante maior".
"A situação é geradora de grande esperança, mas também frágil, trata-se agora de fazer e de fazer depressa", acrescenta Baker, cuja missão de enviado especial terminou, mantendo-se contudo à disposição do Secretário-Geral da ONU em caso de necessidade. O Presidente em exercício do Conselho de Segurança, Bill Richardson, anuncia que aquele órgão discutirá no dia 29 de Setembro as propostas do Secretário-Geral.

26.09.97
Matutes: mais ou menos 80'000 votantes

O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Abel Matutes, afirma em conferência de imprensa dada em Nova Iorque que o importante é o acordo sobre a forma de estabelecer o corpo eleitoral e não o número de eleitores.

25-28.09.97
Conferência internacional de Apoio ao Plano de Paz para o Sahara Ocidental

Mais de 200 convidados, entre eles o Prémio Nobel da Paz Ramos Horta e Frank Rudy, antigo embaixador dos Estados Unidos, participam nesta conferência que tem lugar nos acampamentos de refugiados, perto da cidade de Tinduf, no extremo sudoeste da Argélia. Presentes muitos parlamentares de diferentes países, assim como representantes de partidos políticos e ONG's. No discurso inaugural (texto em espanhol), Bachir Mustapha Sayed, ministro de Negócios Estrangeiros da RASD, afirma que as imprecisões de certos aspectos do plano e a ausência de garantias sólidas quanto à sua aplicação obrigam a uma extrema prudência. Entre as lacunas preocupantes apontadas, Bachir cita o controlo da fronteira norte entre o Sahara Ocidental, a vigilância do espaço aéreo, a presença de colonos marroquinos, a liberdade de acção durante a campanha eleitoral, etc. O ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD reclama a instalação de uma "task force" responsável pelo controlo do processo e garantia quanto ao resultado final, propondo James Baker para liderar esse processo.
"Se tudo correr bem, a identificação pode ter lugar em seis meses", declara Mahfoud Ali Beiba, primeiro-ministro saharaui. No seu discurso aquele responsável adianta que o período de transição, que se seguirá ao período de identificação, durará quatro meses. Acrescentou que, provavelmente, os refugiados serão repatriados para poderem votar nos territórios libertados controlados pelas forças saharauis. Em sua opinião, os contactos directos com Marrocos devem prosseguir a fim a de poderem ser ultrapassadas eventuais divergências.

Acordo de Houston: reacções e comentários (continuação)
Argélia
O chefe do governo argelino enumera três razões que levam o seu país a saudar o Acordo. Tais razões resumem-se essencialmente a: determinação da Argélia em apoiar a estabilidade e o entendimento entre os povos, o plano de paz da ONU com as suas condições e critérios e o apoio ao diálogo. A Argélia está pronta a dar todo "o apoio e assistência" a fim de que o referendo possa ter lugar, à edificação da União do Magrebe Árabe e a "reatar as relações naturais entre os povos da região. (23.09.97)

Mauritânia
23.09.97: O governo mauritano exprime a sua maior "satisfação". E na sua qualidade de observador oficial reafirma a sua disposição de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para facilitar a aplicação do plano de paz e a resolução do conflito do Sahara Ocidental".

Espanha
21.09.97: M. Matutes, ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, afirma numa entrevista que apesar de subsistirem "inúmeros obstáculos" "tudo corre pelo melhor e na medida que o desejamos". Precisa que "importantes progressos foram conseguidos graças à mediação norte-americana", mas que "ainda é cedo para cantar vitória". Matutes diz estar convencido de que a Espanha poderia contribuir para o reforço de efectivos da MINURSO, caso para isso venha a ser solicitada.

França
Em comunicado tornado público no dia 22.09.97, a Associação dos Amigos da RASD "felicita-se pelos resultados obtidos" e salienta a importância da "etapa que acaba de ser alcançada, com todo o seu significado histórico" A AARASD salienta no entanto que o que conta "é a maneira como os acordos serão postos em prática" e que "só a presença de observadores estrangeiros e da Imprensa internacional poderão garantir a transparência e a regularidade do processo".


Rússia
24.09.97: Os últimos contactos directos entre Marrocos e a Polisario em Houston dão origem a um certo optimismo, afirma uma declaração do ministério russo dos negócios Estrangeiros. A Rússia segue com particular interesse a missão de Baker e está disposta a contribuir nos esforços internacionais, em particular com a MINURSO, para a resolução do conflito do Sahara Ocidental. A Rússia manifesta a opinião de para se atingir um acordo para a questão do Sahara, as partes devem continuar a fazer prova de boa vontade, colaborando de forma construtiva com a MINURSO e com o enviado pessoal do Secretário-Geral da ONU.

Imprensa marroquina
Al-Bayane (P.P.S), 18.09.97: Para que não restem dúvidas, da autoria de Mimoun Habriche. (..) Era necessário encontrar uma saída honrosa para os adversários da nossa integridade territorial. Magnânimo, como sempre, Marrocos concedeu-lhes a graça desse perdão, na esperança de que saibam aproveitar essa oportunidade que lhes é oferecida de abandonar um barco onde nunca deveriam ter metido os pés...
La Vie Economique (independente), 23.09.97: O fim do longo caminho para o referendo? (...) E preciso dizê-lo com toda a clareza, e no mais breve tempo possível, qual efectivamente o conteúdo desta plataforma tripartida de convergência. O corpo eleitoral saharaui corre o risco de vir a integrar apenas cerca de oitenta mil indivíduos, afirma-se nas salas de redacção das agências de imprensa internacionais. O que é que isto significa, na prática e na realidade? Segundo que critérios poderão ser identificados os potenciais votantes? Tudo questões que merecem respostas sem ambiguidades... (Abdallah Stouky)
Sob o título "Exit", o editorialista de La Nouvelle Tribune (hebdomadaire) escreve que é com optimismo mas também com circunspecção que deverão ser encarados os resultados da recente ronda de negociações privadas entre Marrocos e a Frente Polisario. (25.09.97).

NOVAS PUBLICAÇÕES

AGENDA

3-9.10.97 Espagne (Bilbao, Vitoria, Donostia, Barcelona, Madrid): "Shertat, contes du Sahara": campanha de informação e de consciencialização sobre as recentes negociações a fim de reforçar a solidariedade com com o Povo sahara, uma organização da Paz y Tercer Mundo e da 'Asociación de Amig@s de la RASD de Euskadi (Programa e contacto).

Novo na INTERNET

Associació Catalana d'Amics del Poble Sahrauí, A.C.A.P.S. Catalunya, España, URL: http://august.ivb.fut.es/altres/sahara/index.htm


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