SAHARA OCIDENTAL

ACTUALIDADES SEMANAIS
original:frances

SEMANA 08

18.-24.02. 2001

 

14.02.01
União Europeia
Durante a reunião, em Estrasburgo, do Intergrupo «Paz para o Povo Saharaui» do Parlamento Europeu, vários eurodeputados intervieram para manifestar a sua preocupação ante a deterioração da situação. Mohamed Sidati, ministro conselheiro e membro do secretariado nacional da Frente Polisario, falou sobre o momento actual do processo. Sublinhou que a região corre o risco de se confrontar com o regresso das hostilidades, dado que a RASD se considera em estado de guerra desde o passado mês de Janeiro. Reafirmou, no entanto, a disponibilidade da Frente Polisario em trabalhar com vista a uma solução conforme o direito internacional.
Várias perguntas haviam sido interpostas recentemente à Comissão europeia e à Presidência com o objectivo de chamar a atenção sobre a gravidade da actual situação. Na resposta que divulgou, o Comissário Romano Prodi declarou que a UE apoia as iniciativas do secretário-geral da ONU e que é favorável a conversações directas entre as partes envolvidas, "com a convicção de que só um diálogo aberto pode ajudar a encontrar uma saída ao impasse actual". Afirmou ainda que a UE continuará a defender uma solução justa e pacífica para a questão do Sahara Ocidental.

16.02.01
Territórios ocupados
Khalihana Ould Rachid (notável saharaui pro-marroquino, ex-ministro dos Assuntos Saharianos, actual presidente do conselho municipal de El Ayoun) organizou no decurso da semana passada encontros em El Ayoun, Smara, Dakhla e Boujdour, durante os quais teceu violentas criticas às autoridades marroquinas. Denunciou o facto de os colonos vindos do norte aproveitarem das riquezas do país em detrimento da população local. Criticou as autoridades e a administração marroquinas, criticando-lhes a política de discriminação face aos saharauis das zonas ocupadas (nomeações de responsáveis políticos, todos originários de Marrocos, prioridade dada aos marroquinos na concessão de empregos). Revelou que os responsáveis da repressão que se abateu sobre El Ayoun em Setembro de 1999 foram agraciados em vez de terem sido levados a responder perante a justiça (citou, nomeadamente, o pacha Mohamed El Guerrouani, entretanto nomeado secretário-geral do governador de Khenifra, e o caïd Laâzouzi, "super-presidente da Câmara" de Agadir). Segundo certos observadores, o discurso provocador de Khalihana tem a ver com o chamado projecto de autonomia para o Sahara. (imprensa marroquina)

20.02.01
Referendo
Margot Kessler, presidente do Intergrupo "Paz para o Povo Saharaui" do Parlamento Europeu, enviou ao secretário-geral da ONU, ao seu enviado pessoal, James Baker, à presidência da UE, da OUA e do Movimento dos Não-Alinhados uma petição requerendo a estrita aplicação do plano de paz e a organização do referendo de autodeterminação saharaui. Várias centenas de parlamentares europeus e deputados nacionais de diferentes países europeus subscreveram o apelo.

20.02.01
Relatório do secretário-geral da ONU, S/2001/148 de 20.02.01
Apesar da falta de progressos constatado na aplicação do plano da ONU para o Sahara Ocidental, o secretário-geral Kofi Annan propõe a prorrogação por dois meses do mandato da MINURSO, ou seja, até 30 de Abril. James Baker, o seu enviado pessoal, ocupado com as eleições norte-americanas não pôde prosseguir as iniciativas junto de Marrocos para determinar se as suas autoridades estão dispostas a propor ou a aceitar uma solução política ou «terceira via», como lhes havia sido pedido. Neste momento ele afirmou estar disposto a encetar esses contactos uma última vez.
Kofi Annan lembra em detalhe a grave crise desencadeada com a passagem do rallye Paris-Dakar que «contribuiu para uma sensível recrudescência da tensão entre as partes, cujas repercussões se fazem ainda sentir ».
Um único elemento positivo durante os 4 meses decorridos desde o último relatório: a libertação de 201 prisioneiros de guerra pela Frente Polisario. A Comissão de Identificação prosseguiu a sua análise dos recursos interpostos. O Alto Comissariado para os Refugiados (ACR) prosseguiu os preparativos com vista ao repatriamento dos refugiados. De 9 a 11 de Fevereiro de 2001 o Programa Alimentar Mundial (PAM) e representantes da Comunidade internacional de doadores realizaram uma visita aos acampamentos de refugiados de Tindouf, a fim de observar os donativos internacionais concedidos pelas organizações humanitárias, entre as quais o ACR, o PAM, ECHO e várias organizações não-governamentais. A delegação avistou-se com os refugiados e os seus porta-vozes e discutiu com as agências de ajuda os meios para assegurar e encaminhar os bens alimentares e não alimentares necessários.
Sob o plano militar, o relatório dá conta de uma intensificação dos exercícios militares por ambas partes e restrições à livre circulação impostas à MINURSO pela Frente Polisario no seguimento do estado de guerra decretado pelo movimento no dia 7 de Janeiro.
Em conclusão o secretário-geral determina os objectivos do seu enviado pessoal que, até ao dia 30 de Abril, irá avaliar se Marrocos «está disposto a propor ou a aceitar delegar uma parte dos seus poderes aos habitantes e antigos habitantes do território, delegação que seja verificável, importante e conforme às normas internacionais.» Por seu lado, «a MINURSO recebeu por objectivo iniciar e acelerar o exame dos recursos relativos ao processo de identificação, independentemente do tempo que essa tarefa possa obrigar até à sua conclusão».
Nota-se que o referendo não é já apontado como uma prioridade mas antes utilizado como ameaça susceptível de pressionar Marrocos a aceitar uma solução política.

Comentários e reacções

A Frente POLISARIO, em carta do seu representante na ONU dirigida ao Conselho de Segurança, reiterou de imediato a sua firme oposição a toda e qualquer iniciativa que negue o legítimo direito do povo saharaui à autodeterminação, alertando contra os riscos de uma retomada de hostilidades armadas se a ONU abandonar a opção do referendo de autodeterminação. Ahmed Boukhari sublinha «o deslizamento progressivo para o abandono puro e simples do plano de resolução, plano aceite pelas duas partes e, sobretudo, respaldado pela Comunidade internacional, em favor de uma pretensa «devolução de autoridade governamental» por parte de Marrocos. Para o representante da Frente Polisario, o relatório reconhece que o problema dos recursos pode ser resolvido e que não existem portanto razões para procurar alternativas ao referendo.
O representante permanente da Argélia junto da ONU, recebido por Kofi Annan, reiterou a constante posição do seu país, fundada na estrita aplicação do plano de resolução e nas resoluções aprovadas pelas Nações Unidas. Por ocasião de um encontro com Said Ben Mustapha (Tunísia), actual presidente do Conselho de Segurança, M. Baali lembrou ainda que a Argélia espera a escrupulosa aplicação do plano de resolução e dos acordos de Houston assim como o respeito da legalidade internacional.

Imprensa marroquina:
Para o 'Le Matin du Sahara', Marrocos já respondeu às exigências da ONU, através das propostas contidas no memorando apresentado 3 semanas após as negociações de Berlim, propostas susceptíveis de «uma solução rápida, duradoura e aceitável» exigida por Baker, mas condicionadas pelo «estrito respeito da soberania e da integridade territorial» de Marrocos.
Al-Bayane (P.P.S) titula no seu editorial: Propostas inaceitáveis e escreve «Devemos lembrar igualmente que Marrocos instou a ONU a que organize um referendo em atmosfera serena... Parece, pois, bem estranho que o secretário-geral da ONU e o seu enviado pessoal abandonem a missão para a qual haviam sido inicialmente investidos para se empenharem em vias tortuosas... As propostas dos senhores Kofi Annan e James Baker são inaceitáveis».
Maroc-Hebdo (ind.) título de abertura: «O relatório de Kofi Annan sobre o Sahara opta por uma autonomia alargada. A ONU fez batota.» Reviravolta histórica no dossier do Sahara, já não se fala de referendo. Mas da transferência de alguns poderes internos, no quadro de uma política de regionalização nacional e no respeito da integridade territorial de Marrocos.

Imprensa argelina:
A iniciativa de Kofi Annan, que relançou a opção da chamada «terceira via» ao apelar a Marrocos a delegar nos saharauis uma parte dos seus poderes sobre o Sahara-Ocidental, é uma clara violação das resoluções da ONU (El Watan, 24.02.01).
A imprensa espanhola sublinha unanimemente que o secretário-geral da ONU impõe um ultimato a Marrocos, obrigando-o a preparar uma solução de autonomia em detrimento de um referendo.

21.02.01
América do Sul
O parlamento Andino, que inclui deputados da Venezuela, Colômbia, Perú, Equador e Bolívia, adoptou uma resolução sobre o Sahara Ocidental, no qual se diz «profundamente preocupado» pela situação em que vivem os cidadãos da RASD. Pede que se proceda o mais rapidamente possível ao referendo e que se respeite a decisão do povo saharaui.

23.02.2001
Sindicatos
A Confederação Sindical espanhola Comisiones Obreras e a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN) decidiram não participar no 4.º congresso do sindicato marroquino CDT, devido ao facto de o mesmo se realizar em El Ayoun, capital dos territórios ocupados por Marrocos, de 14 a 16 de Março.

EM BREVE

27.02.76 - 27.02.01
25.º aniversário da RASD
Após as manifestações que tiveram lugar em França: Limoges, Espanha: Logroño, Bilbao, Itália: Rome, Bélgica: Bruxelles, etc

... outras estão previstas para Espanha: Barcelona , Las Palmas de Gran Canaria, Alicante, Barcelona, Almansa, Vitoria- Gasteiz, Viladecans Barcelona, Elda (Alicante), Albacete, França: Pantin, Suíça: Genève, Cuba: La Havanna, Santiago de Cuba, Holguín, Camaguey, Austrália: Sidney, Eslovénia: Ljubljana, Itália: Pistoia, etc. (dado o seu grande número, é-nos impossível mencionar todas manifestações, pelo facto pedidos aos seus organizadores as nossas desculpas).

... e nos acampamentos a Maratona do Sahara, verdadeiro desafio desportivo e humanitário. Uma maratona, uma meia-maratona e corridas de 10 e 5 quilómetros, vão ser disputadas em pleno deserto entre os acampamentos de El Ayoun e Smara.

O principal objectivo é o de renovar um pouco a esperança dos refugiados que se sentem abandonados desde que referendo previsto para 1992 foi adiado até às calendas gregas. Outro, é chamar a atenção dos media para o conflito esquecido do Sahara Ocidental. E, por último, recolher fundos para a ajuda às crianças saharauis refugiadas.

A ideia da Maratona do Sahara nasceu nos Estados Unidos, no seio de diversas ONG humanitárias, como a US Western Sahara Foundation, Shelter for Life International, às quais se vieram juntar associações como Ecologistas en Acción, Corredores Solidarios, Consejo de la Juventud de España, Union nationale de la jeunesse algérienne, etc. O apadrinhamento da iniciativa foi assumido pela União Nacional das Mulheres Saharauis que convidou os desportistas do mundo inteiro a participar na Maratona do Sahara em sinal de boa vontade e de esperança.

Anuncia-se a participação de cerca de 1000 atletas oriundos de todos os continentes, entre eles maratonistas consagrados como Martín Fiz, 6.º nos Jogos Olímpicos de Sidney, campeão do mundo em 1995, Benito Ojeda, campeão de Espanha em 2000, Fabián Roncero, recordista de Espanha, Juan Francisco Romera, campeão de Espanha em 1990, Juan Carlos Montero, 5.º na Maratona de Nova Iorque, e Ron Hill, campeão olímpicos em 1970, etc ... Sites web: Sahara marathon e El Mundo (resultados)

INTERNET

Página Saharai em italiano com fotografias, história, maratona... : http://alfiotondelli.firenze.net

 

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